sábado, 17 de janeiro de 2009

.Do.que.não.se.dizia.

Eram 5 horas da manhã, Clara não dormira, virava-se de um lado para o outro compulsivamente naquela cama de colchão fino na tentativa vã de exorcizar seus pensamentos. Havia um edredom que a cobria, mas não cobria seus medos, pensamentos, hipóteses e angústias de nunca mais conseguir colocar para fora tudo aquilo que um dia já sentira.

Agora ouvira os pássaros cantarolar, já era tarde demais, como em todos os outros últimos dias, banhava-se de livros, cartas, textos, filmes, vídeos, poesias, era de se admirar, mas quanto mais assistia, ouvia e entendia, menos ela sentia. Seu armário era oco e não haviam segredos ali naquela estante. Mas por quê Clara? Por quê?

Vestia-se de modo qualquer e sentava-se naquela poltrona preta e fria de um estofado tão macio a ponto de sua consciência descansar ali, mas sua mente não, parecia o tempo todo estar caçando palavras. Ao lado da poltrona uma mesinha de canto com um cinzeiro , uma xícara de café bem trabalhada e singular frente a uma luminária que por sinal não iluminara nada na mente vazia de Clara, apesar de ter os teus contornos transparentes s e simplistas como seu nome. Detalhes sutis desenhados na madeira rebuscada da iluminaria tomavam a maior parte do tempo dela sentada ali naquela poltrona gelada.No seu pulso um relógio tradicional que embora estivesse presente, nunca a acompanhava em seu tempo. Seus dedos eram compridos e delicados iguais aos meus, quando abrira a gaveta e tomava seu Box para acender um cigarro, tinha em seus gestos um dom de quem toca piano ou violão. Ah... bons tempos aqueles em que eu sentia a música vibrando em seus dedos quando pegava aquela caneta tão específica de tinta azul e entrava em transe com o papel! Hoje eu só me lembro do seu olhar atento quando abre o laptop, caso contrário é tão longínquo e melancólico quanto seu silêncio gritado quando nos sentamos no sofá da sala para assistir televisão.

Clara, nunca disse que não te amava, nunca quis te deixar de lado meu amor...Onde foi que eu guardei as chaves do teu coração? Quando foi que minha ausência se tornou tão presente ao ponto de ver-te tão calada de repente? Teu silêncio me agride , teu olhar me corrói, tire essa máscara do teu espelho, tire esses óculos dos teus olhos, você não precisa se esconder aí dentro.
Quer saber? Tirei os óculos do rosto dela e para minha surpresa havia adormecido tocando levemente o cigarro que ainda não havia acabado até o cinzeiro com uma das mãos e a outra...tão gélida e expressiva repousada sobre as minhas.

Estava com uma aparência tão serena naquele dia que eu me recusava a entender...me lembro bem de tua última palavra tão fria e tímida de voz rouca antes de adormecer me dizendo : “ Acabou!”

2 comentários:

Unknown disse...

Tive orgasmos multiplos, e olha que eu sou homi e nem tenho dessas coisas. Tá hipnótico como fazia tempo que eu num via vc escrever, o fantasma do passado do "bem escrever" veio puxar o pé da sua alma Duda. Ficou do Car¢³¬¢¹²...
hauHAUhauhUHA
Faz mais assim.

taT disse...

Às vezes me vem uma vontade de fugir. Últimamente tudo parece fora de si (ou de mim). Parece estranho, mas eu sinto falta de você, dos lugares onde não estivemos, dos momentos que não presenciei, falta dos beijos que não te dei.
Vem deitar aqui. Fecha a porta e fica do meu lado. Repousa no meu peito, momentos antes de dormir. Preciso estar com você, aqui. Porque eu quero ser a que vai te receber quando você abrir a porta, que estará na sala te esperando pacientemente, que vai te dar um beijo antes de dormir. Cansei de comprar livros e cds para preencher os espaços que tua ausência me tras. Apenas fica.
Me lembro das brigas que não tivemos, das músicas que escolhi, aquele retrato em preto e branco... foi só minha imaginação.